segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Zeferino, as sombras do tempo e a culpa dos fados

O grande Zeferino Galvão


Muito se fala em resgatar a história de Pesqueira, seu esplendor do passado. Muito se fala, pouco se faz. De fato, há coisas para as quais não encontro explicações razoáveis. Senão Vejamos. Pesqueira viu crescer um vulto literário da envergadura intelectual de um Zeferino Cândido Galvão Filho (1864-1924), segundo ocupante da cadeira número 1 da Academia Pernambucana de Letras, proprietário, diretor e redator-chefe da Gazeta de Pesqueira, onde servia também até como gráfico, pai do também jornalista Anísio Galvão (patrono da nossa Câmara de Vereança) e autor de volumosa obra, onde se destacam desde livros de poesia e romances históricos, até estudos políticos, filosóficos, sociológicos e teológicos.
Pois bem, esta obra encontra-se esgotada, fora dos catálogos, quando não inédita, mais de século depois. Os alunos do ensino médio de nossa cidade, assim como os seus mestres, não têm acesso, portanto, a maior herança deste nosso gigante do passado. Não demonstramos o zelo devido pelo que nos deixou Zeferino Galvão e o poder público municipal, a quem caberia a primeira das providências, nenhuma iniciativa sequer ensaia a fim de publicar sua obra.
Além de intelectual - na mais justa expressão do termo - o historiador Luiz Wilson destaca as excepcionais qualidades morais de Zeferino Galvão. Abolicionista convicto, Zeferino recebeu quatro escravos como dote de casamento, o que representava, à época, uma soma bastante razoável. Mesmo sendo “pobre de Jó”, alforriou aos quatro no mesmo dia (Ararobá, lendária e eterna, Luiz Wilson, 1979, pág.231).
Tanto amava nossa cidade que, tendo nascido na Fazenda Olho d’água, na época divisa de Pesqueira e São Bento do Una (atualmente pertencente a Belo Jardim), jamais esquecera do primeiro dia no qual chegara a cidade que já abrigava familiares seus e o adotaria por toda a vida: “Recordo-me perfeitamente do dia que aqui cheguei (em Pesqueira); contava seis anos de idade, e foi em maio de 1870, numa quarta-feira, já ao cair da tarde. Desconhecia completamente o que fosse um mercado, e tão atoleimado era, não só pela diminuta idade, como também pela educação campestre que, ao percorrer a feira, não obstante ser conduzido por meu pai, senti que a cabeça andava à roda, e que tudo me parecia fantástico! Instalaram-me definitivamente nesta querida cidade, que terá meus ossos, se os Fados, conforme diria um romano, não determinarem o contrário.”
Os restos mortais do grande escritor pesqueirista ainda jazem no Cemitério de Santo Amaro, no Recife e não me consta que político algum tenha proposto o “repatriamento” e a justa homenagem póstuma desta cidade à suas exéquias. Data vênia, os fados para isto não concorreram com culpa alguma.

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